terça-feira, dezembro 12, 2006

No fio que nos separa encontro sempre a corda que nos liga.
Lá onde estás ficou a minha noite despida, ficou o luar que não quis trazer.
Nesta liberdade presa e nua sobram tempos cheios de quartos molhados.
Não encontro o teu passado em mim, olho para ontem e não me encontro lá.
Trocamos os corpos, mudamos de lugar e mudamos o lugar para trocar os corpos,
e entre preconceitos desarrumados encontra-se um novo sítio para descansar,
mas eu não quero descansar o cansaço que trago, não lhe dou tempo para chegar
de novo e dizer nada, e eu anónimo dentro de mim, não sei que fazer com este
fio que nos liga e esta corda que não me deixa deixar.
Quero fumar cigarros no luar do teu telheiro, beber-me nos teus copos, lavar-me
no teu cheiro, ter-me na tua pele, quero sempre o outro lado da corda que nos
separa, que por uma qualquer vontade nos agarra.
Deixo agora para depois a razão, deixo-me agora levar na estrada de areia,
deixo-me agora por despentear nos lençóis que quisemos ter.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Hoje não dei conta de sair de mim, acordei pela manhã, almoçei pela tarde, jantei na
noite. Bebi, fumei, cheirei e senti e sem saber de outras palavras, andei, sorri,
na cidade dos outros em trânsitos cheios de vermelhos intermitentes, andei nas ruas daqueles de respostas prontas. Hoje estou sem perguntas para as minhas respostas.
Estou sentado no lado certo da banco, sinto o chão molhado e a chuva que me teima ao vento, mas resisto sentado agarrando sem perceber o jornal que sobrou da manhã.
Gostava de poder guardar cada cigarro que ainda não fumei, como gostava de perder cada hora dos relógios que tive, e que já não tenho.
Os meus relógios deram-me muitas horas, cheias de dias e noites, é engraçado como quando trocamos de relógio mudamos o tempo das horas, é engraçado!

domingo, dezembro 03, 2006

Entre a noite a turnos, colheradas de sopa fria, espirais invertidas, palavras bem traçadas, esgrima de letras, letras sem tempo na memória teimosamente insatisfeita, por entre diários tão cheios de quotidiano e inevitavelmente construístas.
Entre meios vazios e cheios vagos, notas soltas de indiferença aprendida entretanto
em palavras iguais na forma, ordenadamente inócuas como desertos estéreis de sol.
Agora quero escrever palavras novas, as letras que não aprendi, as frases que nunca
tentei e que me sabem, talvez assim não me morra tão desidratado de ti.
Talvez desta vez não me chegue acontecer-me, num aparece-te que soa tanta a vem-me que vou acabar por não ir-me para aí, onde não fui e estive.
"Entre", é um espaço cheio onde tudo cabe quando me acordaste sem ti para mim.