segunda-feira, julho 10, 2006

Sr. Professor......

Já está, acabou, fim, the end, ou finito.
Imortal povo este, Nação berço de Nações, condição ganha em guerras combatidas até ao último dos suspiros, até ao último dos homens, Nação valente, sem quaisquer margens para dúvidas, nobres destemidos que deram novos Mundos ao mesmo Mundo.
No seu tempo Sr. Professor parece que tudo era mau, ou foi mau. País, regime, pessoas, polícias, estradas, escolas, artistas, cultura, sei lá, não foi muito do agrado do dito povo. Passaram quarenta anos, é verdade, até para mim Sr. Professor e tudo mudou.
Hoje temos pessoas e polícias, estradas e escolas, artistas e cultura, desporto e futebol. Sr. Professor até começámos a ter que ouvir "Portugueses", acabámos com "o povo", mas ninguém diz nós, isso é para alguns, tudo está diferente, tudo melhorou depois do Torres, do Coluna e mesmo do "Pantera Negra", agora simplesmente Eusébio, com merecida estátua.
Agora as pessoas, nós, os Portugueses estamos realmente bem, com orgulho pela obra feita desde o seu tempo, satisfeitos como garoto com bola nova, como cachorro de pêlo escovado, estamos eufóricos na felicidade palerma de "mãe" adolescente. Estamos como estamos, e já chega. Satisfeitos por ser Portugueses, como aliás, já o éramos...
Hoje tudo é diferente, temos outro Sr. Professor, vias rápidas, estádios até Liberdade para podermos com mérito próprio chegar quase, quase, como no seu tempo, a uma final. Enfim...
Chegámos lá mas foi ligeiramente pior, festejámos, isso sim, realmente melhor com plasmas por pagar, em esplanadas cheias de fome em estradas cobertas com as cores da nação, umas vezes trocámos o lugar do vermelho encarnado pelo verde, mas são coisas em que ninguém repara, o importante é a festa. Não a outra, a do seu tempo, aquela à Antiga Portuguesa, em Praças engalanadas para Toureiros e povo se deslumbrarem com almas e tércios, bandarilhas
magníficas executadas com a perfeita mestria de quem sabe ao que foi. Grande Chibanga.
Agora temos os defensores dos animais dos outros que não sabem cuidar dos seus, e temos o
Campo Pequeno renovado, coisas novas, centros comerciais para conseguirmos ainda ser mais
felizes, é verdade, levamos a felicidade para casa em sacos cuidadosamente ordenados num carrinho que depois empurramos até ao nosso próprio meio de transporte, agora "quase" todos temos um, nesta altura como andamos muito contentes buzinamos imenso para que todos saibam que ainda existimos, foi a maneira encontrada para exaltar o nosso Patriotismo, e aproveitar para fazer notar o carro, depois lá vamos alegremente para casa, também "quase" todos temos uma, repartir a felicidade enquanto dura pois agora os meses são rápidos embora pareçam séculos, lentos só os ordenados que agora tardam em chegar, tecnologias.
E temos férias e montes, quer dizer muitos, de cartões na carteira, carteiras de pele, de marcas conhecidas, antes não havia tantas carteiras, nem cartões, nem bancos. Os bancos antes eram uns sovinas, uns pobres, hoje há muitos e ajudam-nos quase sempre, os bancos agora são muito ricos, isto melhorou muito desde o seu tempo, está tudo muito diferente.
Os jornais dão-nos bandeiras que vendemos com notícias importantes àqueles que ainda se preocupam em saber como vai a nossa Nação, pode não acreditar mas as notícias são muito parecidas com as do seu tempo só que agora não temos censura, também há cada vez menos gente com integridade e capacidade para isso, enfim depois de contas feitas, de votação efectuada pelos mais entendidos orgãos internacionais, notícia para o papel, ganhámos afinal um primeiro prémio, um almejado primeiro lugar, tinha que haver um,......fomos os mais empolgantes do Mundial, empolgantes é verdade. É a conhecida vitória de Pirro, para nada.
E no seu tempo não éramos empolgantes?, mas não havia ainda este prémio, aliás deve ter sido o primeiro e até nisso somos pioneiros, inovadores. Empolgante, foi a Amália no Olimpya, foram as antigas Colónias, talvez até Caxias ou mesmo a Pide para alguns, agora não, agora é o marasmo o agonizar de peixe vivo a quem temos de tirar o anzol para depois voltar a repetir o acto com o mesmo entusiasmo das horas dos dias anteriores.
Enquanto estamos com uns não podemos estar com uns outros, é condição.
O campeonato está aí a chegar como bom povo que somos, todos nós, vamos carpir mágoas passadas em derrotas de fim de semana, vamos recordar vitórias de outros nos ganhos próprios de cada um e alheios de nós vamos sentir o direito à indignação por Deus dormir lá, junto dos outros novos deuses na Roma democrática da velha itália.
Vou-me embora Sr. Professor, estou cansado, vou p'rós Fascistas......