domingo, julho 02, 2006

Tardes de Verão......

Hoje tentei compreender o vento, o que sente quando passa por mim, perdido no seu caminho atrás de ontem, despercebido de mim, da minha existência. Atravessou a rua, mudou de passeio como quem não quer cumprimentar, esquivou-se como namorada antiga, como devedor quase esquecido de qualquer coisa, passou simplesmente por mim.
Estava fresco, com sabor a novo e cheiro a mar, tem sorte o vento, vai para onde quer, umas vezes depressa outras devagar, umas vezes quente outras gelado, mas vai sempre.
Encontrei-o duas ruas abaixo no Beco da Torre, sózinho, acocorado num vão de escada onde mal se ouvia mas era ele realmente, triste e sem força, cabisbaixo como criança que faz asneira...
A conversa foi rápida, ele estava cansado de tantos anos passados, já conhecia o mundo todo, esteve onde a minha memória não chega, conhece o que nunca acreditei existir e então falou do mar. Era o mar a razão da sua tristeza.
Fizeram tantas viagens juntos, conheçe-o tão bem, fazem acordos acerca dos tempos que vamos passar, decidem sobre nós, mas ele não o consegue agarrar. Adora-o, leva-o para todo o lado, tráz-nos o seu cheiro, dá-nos o seu sabor, trá-lo de bandeja a cada um, mas não o consegue tocar, sentir a força da sua vontade, a vontade que tem de ser enorme, de ser azul, reconhecido e respeitado por todos, afinal o mar era imenso, amado por todos e ele companheiro inseparável de tantas viagens não mais que um desconhecido, e partiu.
Encontro-me também por vezes em mares desconhecidos que não agarro, mas como o vento, viajamos juntos, semanas, meses. São horas em perfeito desalinho com os dias, onde o querer agarrar nunca é mais do que a vontade dum vento fresco numa esplanada de mar em final de tarde de Verão.


1 Comments:

Blogger Margarida disse...

Gosto muito do tema no fundo deste texto.

7/21/2006 03:17:00 da tarde  

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